Se o primeiro volume de Cidade da Lua Crescente foi um soco emocional, Casa de Céu e Sopro é uma longa respiração antes de outro mergulho — e, sejamos sinceros, às vezes uma respiração longa demais. Sarah J. Maas retorna ao universo de Bryce Quinlan com um livro que tenta expandir o mundo, aprofundar tramas políticas e amarrar pontas soltas, mas o resultado é… irregular. Ainda assim, o final — ah, o final! — é o tipo de virada que faz o leitor jogar o livro longe, gritar e imediatamente correr para reler as últimas páginas.
Um começo mais lento (e um meio quase cansativo)
Bryce está de volta, agora tentando viver uma vida “normal” depois dos eventos devastadores de Casa de Terra e Sangue. Ela quer paz, Hunt Athalar quer paz, e nós também — mas Sarah J. Maas nunca foi de deixar ninguém descansar por muito tempo.
Logo, eles se veem novamente no meio de conspirações políticas, revoltas angelicais e segredos do governo celestial. O problema é que o livro demora para engrenar. Há longos capítulos de diálogos, planos, festas e descrições que tornam o ritmo arrastado.
Em alguns momentos, parece que nada acontece por páginas e páginas — e quando algo acontece, é rápido demais.
Mesmo os novos personagens, como Tharion, Ruhn e Hypaxia, demoram a brilhar. Maas tenta dar a cada um um arco próprio, mas o excesso de subtramas faz o leitor perder o foco (e a paciência).
O mistério que não surpreende
Um dos principais fios condutores da história é o mistério do menino que os pais adotivos de Bryce esconderam. A autora o apresenta com um ar de segredo bombástico, mas conforme as pistas aparecem, o desfecho soa previsível — especialmente para quem já conhece os padrões narrativos de Maas.
O leitor mais atento provavelmente junta as peças bem antes da revelação oficial. E quando ela chega, em vez de um choque, o que vem é um “ah, então era isso mesmo”.
É frustrante porque a autora cria a expectativa de algo grandioso, mas o suspense não entrega o impacto prometido. É um dos raros momentos em que a magia de Maas tropeça.
Bryce e Hunt: amor, política e cansaço
Bryce e Hunt continuam com uma química inegável, mas o relacionamento aqui é mais estável — e, paradoxalmente, menos interessante.
Eles enfrentam dilemas de confiança e o peso de estar no centro de forças que não controlam, mas o romance perde a intensidade emocional do primeiro livro.
Ainda assim, há momentos de ternura genuína.
Bryce amadureceu. Ela não é mais a garota perdida que se jogava em festas para fugir da dor; é uma mulher tentando entender o próprio poder e o lugar que ocupa num mundo que teme o que não compreende.
E Hunt… continua sendo o anjo com as asas quebradas — literalmente e metaforicamente.
O final que explodiu o fandom
Depois de 700 páginas de intrigas, planos e investigações, Sarah J. Maas entrega um final de tirar o fôlego.
Quando tudo parece estar prestes a ruir, Bryce ativa o poder que carrega desde o primeiro livro e atravessa mundos.
E é nesse momento que acontece o que ninguém esperava — Bryce aparece em Prythian, o universo de Corte de Espinhos e Rosas (ACOTAR).
Sim, você leu certo.
A autora conecta de forma explícita Cidade da Lua Crescente ao universo de Feyre, Rhysand e companhia.
É o crossover que os fãs especulavam há anos, mas que ainda assim conseguiu surpreender até quem duvidava.
A cena é curta, mas suficiente para virar o fandom de cabeça para baixo. O choque é real. A promessa, enorme. E as possibilidades… infinitas.
O saldo final
Casa de Céu e Sopro é, sem dúvida, o livro mais irregular de Sarah J. Maas. Tem um início que demora a decolar, um mistério que não empolga e um miolo que poderia ser enxugado sem prejuízo.
Mas o final — aquele epílogo que muda tudo — compensa cada página.
Maas planta as sementes de algo muito maior: um universo literário compartilhado, onde as casas de Crescent City podem um dia se encontrar com as Cortes de Prythian.
É o tipo de reviravolta que faz a gente perdoar o caminho tortuoso até chegar lá.