Resenha: O Povo do Ar, de Holly Black — poder, crueldade e o amor que nasce da guerra

Trilogia O Povo do Ar foi uma montanha-russa emocional.
Eu entrei em O Príncipe Cruel achando que seria mais uma fantasia sobre humanos e fadas… e saí completamente obcecada por esse mundo onde a beleza e a crueldade andam de mãos dadas.
Holly Black não escreve um conto de fadas — ela escreve sobre sobrevivência num reino onde cada sorriso pode esconder uma lâmina.


⚔️ O Príncipe Cruel — o impacto inicial

Logo nas primeiras páginas, somos jogados num dos inícios mais chocantes da fantasia jovem.
Os pais de Jude Duarte são assassinados diante dela e das irmãs, e o responsável — Madoc, um general feérico — leva as meninas para serem criadas em Elfhame, o mesmo reino das fadas que destruiu a vida delas.

É uma cena brutal, quase desconfortável de ler, e que já deixa claro: esse não é um mundo gentil.
As fadas são cruéis, manipuladoras e sentem prazer em causar dor.
Jude cresce nesse ambiente hostil, tentando se impor como humana em meio a criaturas que a desprezam apenas por existir.

E é aí que conhecemos Cardan Greenbriar, o príncipe cruel — e ele faz jus ao título.
No começo, ele me deu raiva. De verdade.
Arrogante, provocador, cruel de propósito. Mas, aos poucos, a gente entende que ele não é só isso.
Nesse mundo, todos são produtos da própria crueldade.

Jude, por outro lado, é genial.
Ela observa, aprende, planeja. Enquanto todos a subestimam, ela está dois passos à frente.
A irmã gêmea dela, Taryn, me tirou do sério — e o que ela faz mais pra frente é simplesmente imperdoável.

O primeiro livro é tenso, intrigante e deliciosamente cruel.
E mesmo com as migalhas de romance entre Jude e Cardan (porque vamos ser sinceros, é um enemy to lovers daqueles intensos, cheios de ameaças e faca no pescoço), a parte política e estratégica é o que mais prende.


👑 O Rei Maléfico — intrigas, poder e reviravoltas

Se no primeiro livro Jude aprende a sobreviver, no segundo ela aprende a dominar.
Agora, ela tem o poder — mas poder em Elfhame é sempre uma armadilha.
As alianças mudam de um dia pro outro, e ela precisa enfrentar traições vindas de todos os lados, inclusive de quem ela ama.

E é claro que ela cai numa armadilha — porque ser humana entre fadas é viver à beira do abismo.
Jude acaba banida, mas o irônico é que esse banimento é quase simbólico: ela é a rainha e poderia voltar quando quisesse… só que não percebe isso.
É o tipo de erro que mostra que até as mentes mais brilhantes têm brechas quando o coração entra no jogo.

O relacionamento com Cardan continua nessa tensão deliciosa: provocações, poder, confiança quebrada e um sentimento que cresce nas entrelinhas.
Nada é fácil, e é isso que torna tudo mais real.


🕊️ A Rainha do Nada — redenção, sacrifício e o fim de um jogo perigoso

No último livro, Jude retorna pra colocar ordem no caos — e, como sempre, salva todo mundo enquanto o resto do reino está tentando destruí-la.
Ela precisa enfrentar Madoc, lidar novamente com Taryn, e ainda ajudar Cardan a se livrar de uma maldição que ameaça não só o trono, mas a própria essência dele.

O livro tem seus altos e baixos, e o final dá uma pequena “viajada” em certos pontos, mas ainda assim é satisfatório.
O plano de Jude e Cardan é genial, cheio de camadas, e fecha o arco de forma coerente com quem eles são: inteligentes, perigosos e apaixonados à própria maneira.

No fim, os dois se tornam meu casal favorito do tipo “te odeio, mas te amo mesmo assim”.
Eles se entendem no caos, e isso é o que mais gosto nessa história.


💭 O que ficou

A trilogia O Povo do Ar é cruel, política, inteligente e irresistível.
O universo é riquíssimo, com descrições vívidas e uma mitologia que mistura o belo e o grotesco.
Jude é uma das protagonistas mais bem construídas que já li — humana, falha, estratégica e corajosa.
Cardan é aquele tipo de personagem que começa insuportável e termina inesquecível.

E mesmo com um final um pouco apressado, eu fechei o último livro com um sorriso.
Porque no fundo, O Povo do Ar não é sobre fadas e reinos mágicos — é sobre poder, identidade e o custo de se manter fiel a si mesma em um mundo que tenta te quebrar o tempo todo.


Leitura complementar

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